kitschnet - mini-pratos ao balcão: quem diria


6.3.07

quem diria
que me vinha a tristeza pelo telefone assim numa sexta feira à tarde sem aviso de recepção sem despedida nem breve nem eira qual poeira. o abalo do desmancho do castelo de cartas de amor, de letras de inverno, de ovelhas pastor, do até já querido senhor. que não há-de durar sempre, nem o longe nem o repente e fico assim só entre a gente sem poder dizer a muito mais ninguém que a espera do lançamento fica adiada para o além. o arremesso esperado do livro, da sardinha, da letrinha adiantada ao bisponto, armada em riste riso rico ou triste efectivamente adjectivafirmadamente. foi-se na minha sexta-feira um pouco do meu substantivo colectivo. peguei nele há pouco, logo de caras e de costas largas, a carregar-me as gargalhas em multibancos de comboio e metro, a virar-me a página ao insurrecto que o pretério é marreco. por isso digo, daqui te escrevo, alface se me ouves, não estás esquecido. ficas guardado e publicitado e espalhar-te-ei sempre que puder e deixarem, se os tolos te editarem e não me impedirem de te andar a escrever nas paredes, irei oferecer-te aos parentes, a guardar-te, citar-te, mandar-te àquela parte. que és um grande e belo português, que tu na tua língua dos pês nos desfazes em miudagem, em papel de boa gramagem, tu que escreves tão logo o que vês, agora pousas que o teu prosar tem graça, que algum dia tinha de ser e cá vai a saudade em marcha, meu amor popular, o conto que ficou por contar é o que levas contigo na folhagem da voragem. e fico assim a páginas tantas entre o luto e a luta de escrever uma coisa razoável num elogio póstumo e elogiável que havia de ser devido e prestado em vida e só não foi porque não se soube como. mas soube a pouco, quero mais desse canto arranhado, rouco e alegrete alface em molho vinagrete. como dizer depois o que se sente agora, como falarmos a dois do que vemos lá fora? sou chorona, bem o digo. chorona demais para ser outra coisa qualquer. a homenagem à margem bem tarda mas também é para ser feita nunca, que o que aqui faço é um protesto, um até breve esperneante, uma birra altifalante de anda cá não te vás embora, mais uma linha, mais uma hora. ainda sem consolo, limpam-se os olhos à obra e tudo, todo o resto, ficou por dizer. é fraquinho, eu sei, mas para ti tudo é pouca a terra, és muita parra e muito mais uva. fica assim só sussurrado quietinho ao canto e abençoado, o dizer boa viagem, que não descanses mas fica em paz. que vais nas voltas mas deixas a bagagem. e também a saudade. perdido mas sempre achado, ficas amigo, aqui ao lado.

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posted by pimpinelle