kitschnet - mini-pratos ao balcão: mr. sandman


24.5.07

mr. sandman
em jeito de exercício de excrita, porque raro os tenho e sempre deles m'esqueço, conto-vos o sonho que hoje tive. quisera eu ser tão criativa acordada e aqui vai a história em planos: primeiro estou deitada e constipada e assoo-me e saem enormes fios de ranho amarelo como se fossem fiadas de pérolas, em tudo iguais a elas. depois afinal estou é a sair de um trabalho num congresso e tento regressar a casa, mas quando saio do recinto estou afinal noutro sítio, desconhecido, vagamente parecido com as ruas de barcelona. encontro o prédio, um pouco diferente, mas podia ser dos meus olhos. entre os dois elevadores escolho o monta-cargas porque o outro estava desnivelado. carrego no botão que me levaria ao quarto andar e começo a subir mas o elevador não pára. sobe e sobe e sobe e eu, feita alice, fico a ver onde me leva. saio por fim num andar que nem vem anunciado nos botões do prédio ou do elevador. como é antigo, deduzo que é um prédio do outro lado da rua, servido por este elevador apenas por acaso e que lá fui parar por engano. tenho de sair do monta-cargas porque ele não se move e dou entrada numa sala pouco urgente onde está tudo quotidianamente disposto. tudo estranho para mim, mas mantém-se a calma, nem há porque não. casa antiga, pé direito altíssimo. encontro a amabilíssima, pela sua naturalidade, dona da casa que me assegura não haver problema nenhum e poder entrar à vontade. faz-me seguir para uma nova divisão, o quarto em desalinho. enquanto fala comigo e eu não a oiço porque me distraio na observação dos arredores, reconheço-a do congresso mas não lho digo, porque aliás, ainda nem falei. nisto entra o marido, grande, vindo do banho qual desportista do balneário, de toalha à cintura. aí falo e peço desculpa e encabulada viro a cara procurando uma saída. diz-me ele, ora, ora, não vale a pena envergonhar-se dessa maneira, se toda a gente fosse assim, o que isto seria. atrás de uma cortina de um tecido adamascado displicentemente puxada para o lado, está uma porta que me parece ser uma boa opção. despeço-me apressada e obsequiosa. a dona da casa tagarela mas eu não ligo. acompanha-me porque lhe mostrei vontade de ir andando e então agora leva-me à porta da casa. mas não chega a levar, deixa-me antes entregue a um grupo formado por uma escritora brasileira que discute os planos para o novo livro e um careca a quem os relata e que a ouve atentamente. o grupo anda decidido de maneira que os sigo porque eles devem saber onde vão. ela fala mais do que ele. ele parece que é fotógrafo e promete-lhe boas imagens e sequências de génio. parece-me tudo exótico mas sem que apresente perigo. sigo atrás deles, sala após sala, a olhar para as paredes em busca de uma porta promissora. enfim lá vamos dar a umas escadas. enormes, de madeira e os dois sempre tagarelando no que me parece ser uma língua de trapos, provavelmnte fruto da minha desatenção. só penso nas escadas, que começo a descer. são tão largas, altas e com um poço no meio delas tão grande que não há modo de as abreviar. cada patamar é diferente mas não me detenho a observá-lo. continuo, o truque é olhar para baixo. finalmente chego ao fim mas em vez de ir dar a um lobby de prédio, desemboco numa loja por alugar, daquelas que têm a montra de grandes vidraças por limpar. no chão há vários sacos de plástico brancos, dos que não fazem barulho, cheios de material de escritório insólito como aquelas coisas desenroladoras "tire a sua vez" que há nas zonas de espera de repartições, supermercados e afins. desvio os sacos para tentar passar, são tantos. saio da loja, parece que a porta cedeu, e venho para a rua. rua estranha, parecem ruas do avesso. finalmente, segundo um raciocínio original, lá me oriento e chego a casa. não arrisco, escolho o elevador, desnivelado ou não, e quarto andar comigo. pára no sítio certo. entro em casa, cansadíssima, deito-me e adormeço.
eu que pouco tenho escrito vos proporciono este naco de letras só para ver se querem ser o john malkovich. qual david lynch qual quê. esse até me faz impressão às vezes. não quero cá os sonhos dos outros, que desconforto. até porque me chamo rita e tenho aquele poster aqui atrás de mim e a coisa faz-me arrepios. eu sou mais uma história simples. regalem-se e analisem se quiserem. isto só serve para sublinhar o meu espanto face ao porquê das pessoas se drogarem. está tudo cá dentro.
ah, os sonhos, os sonhos...
consciência tranquila é coisa que não existe.


posted by pimpinelle