kitschnet - mini-pratos ao balcão: meteorologia


15.6.07

meteorologia
ainda não sei bem por onde pegar. mas aí nada de novo. aliás, aqui há poucas novidades colossais que as coisas boas imiscuem-se devagar. nem no olho molhado, que não sendo habitual, também não é raro. mas isto comoveu-me. tudo o que chamou. mais tarde ou mais cedo tudo se entrelaça. vi-te uma vez e sem te sentir à vontade, fui andando e não disse nada. anos depois nesta segunda vez estava com pressa e sem certezas de que fosses de facto tu. com vários dias de atraso cai-me um raio no colo e claro, como foi possível passar todos esses dias sem me dar conta perguntei-me eu. não te negaria mais nenhuma vez e quando fui saber já tinhas picado o ponto e era o último dia. mas não fazia mal que ficava para a próxima que não acredito em últimos dias e pode guardar-se para depois o reencontro e o embaraço. e depois isto. porque é esquisita esta visita à rua onde nos esfolámos, onde o cão ladrava dia e noite, os banhos eram de mangueira, o tempo para gastar muito e o vizinho lavava o carro todos os dias pontualmente. havia meias para apanhar no telheiro dos do r/c, molas no meio das ervas e vários outros vizinhos. os da minha rua que também foi um pouco a tua, o xavier, a edine a aline e a dentine, esta última inventada pelo o meu tio, a fernandaaaaaaa e o joão não muito longe hoje do que eram mas já outros e a garagem deles, os da outra rua e as garagens da nossa. que aqui os nomes eram gritados de lés a lés em forma de eco e se faziam guerras aos vizinhos, desenhos a giz no alcatrão e lanches tu cá tu lá, entre segredos e gravações de cassetes. ode houve primos no verão e festas de anos. a rua onde vivi, terceiro andar esquerdo com vista para a serra e para o mar e um venham jantar garantido. na rua de e para onde olhei tanto, à janela de lápis na mão a perceber que não tinha jeito para o desenho, na outra janela de periquito na corda da roupa, na outra à espera de quem chegasse, e de novo na primeira a fumar o cigarro clandestino. as pernas foram deixando de caber entre as grades e nunca mais tive dessas pilhas gordas que alimentavam o rádio mas o monopólio está guardado. que o tempo estuga o passo, empurra os peões para a frente e passa a vida muito vite. o prédio foi perdendo a cor e ainda não o repintaram. já lá não estamos mas passo ao largo por vezes. agora ninguém lá anda de bicicleta mas ouvem-se os amoladores. ninguém atira coisas pedidas e chaves esquecidas da janela, nem se magoam zangam e amigam nem procuram pistas nem inventam conspirações. embora esteja tudo igual. não pude evitar os olhos de água e sal porque o tempo é ladrão e apesar da casa cheia há buracos cá dentro onde faz corrente de ar. foram tardes enormes e dias de correria apanhada escondidas, saltos de corda e patins em linha a trepidarem no alcatrão. fomos tantos mas até sozinha tinha piada. foste a última novidade da rua que recordo e lembro-me de ter ficado contente com isso de a minha irmã ter encontrado uma amiga esperta e divertida. lembrei-me de ti quando o george michael cá veio. e a minha irmã ainda hoje gosta do axl rose por tua causa. custa-me o abanão que o recuo traz porque uma vez a andância pra diante os virares de cabeça vão escasseando e depois é uma surpresa. não se fazem pesamentos, aprecia-se. apreciar que apesar da piroseira do termo é uma fruição contemplativa. fico contente por estares bem e nem esperava outra coisa. havemos de falar depois para substituir esta imagem que tenho de ti pequena. remexer nos arquivos vivos é sempre bom e eu sempre gosto. ultimamente tem-me chegado muita coisa vinda dos passados, talvez porque as coisas nunca tenham andado tão rápidas. a vida alonga-se mas alinha-se. o tempo, esse grande terrorista. não sobra muito para teorizar. asnática como il faut e tão feliz como nunca. não páro de fazer anos. tenho um blog há dois. da nova casa também vejo o mar e há um cão que também ladra a toda a hora.
a minha irmã vai ter o filho na segunda-feira.

posted by pimpinelle