I am the passenger
música para os meus ouvidos e livro aberto a ver se não os oiço nem vejo.
mas quando alguém à minha frente decide lavar os chackras com os florais de bach, nada a fazer. estou a ser atacada por todos os flancos.
mr. sandman
em jeito de exercício de excrita, porque raro os tenho e sempre deles m'esqueço, conto-vos o sonho que hoje tive. quisera eu ser tão criativa acordada e aqui vai a história em planos: primeiro estou deitada e constipada e assoo-me e saem enormes fios de ranho amarelo como se fossem fiadas de pérolas, em tudo iguais a elas. depois afinal estou é a sair de um trabalho num congresso e tento regressar a casa, mas quando saio do recinto estou afinal noutro sítio, desconhecido, vagamente parecido com as ruas de barcelona. encontro o prédio, um pouco diferente, mas podia ser dos meus olhos. entre os dois elevadores escolho o monta-cargas porque o outro estava desnivelado. carrego no botão que me levaria ao quarto andar e começo a subir mas o elevador não pára. sobe e sobe e sobe e eu, feita alice, fico a ver onde me leva. saio por fim num andar que nem vem anunciado nos botões do prédio ou do elevador. como é antigo, deduzo que é um prédio do outro lado da rua, servido por este elevador apenas por acaso e que lá fui parar por engano. tenho de sair do monta-cargas porque ele não se move e dou entrada numa sala pouco urgente onde está tudo quotidianamente disposto. tudo estranho para mim, mas mantém-se a calma, nem há porque não. casa antiga, pé direito altíssimo. encontro a amabilíssima, pela sua naturalidade, dona da casa que me assegura não haver problema nenhum e poder entrar à vontade. faz-me seguir para uma nova divisão, o quarto em desalinho. enquanto fala comigo e eu não a oiço porque me distraio na observação dos arredores, reconheço-a do congresso mas não lho digo, porque aliás, ainda nem falei. nisto entra o marido, grande, vindo do banho qual desportista do balneário, de toalha à cintura. aí falo e peço desculpa e encabulada viro a cara procurando uma saída. diz-me ele, ora, ora, não vale a pena envergonhar-se dessa maneira, se toda a gente fosse assim, o que isto seria. atrás de uma cortina de um tecido adamascado displicentemente puxada para o lado, está uma porta que me parece ser uma boa opção. despeço-me apressada e obsequiosa. a dona da casa tagarela mas eu não ligo. acompanha-me porque lhe mostrei vontade de ir andando e então agora leva-me à porta da casa. mas não chega a levar, deixa-me antes entregue a um grupo formado por uma escritora brasileira que discute os planos para o novo livro e um careca a quem os relata e que a ouve atentamente. o grupo anda decidido de maneira que os sigo porque eles devem saber onde vão. ela fala mais do que ele. ele parece que é fotógrafo e promete-lhe boas imagens e sequências de génio. parece-me tudo exótico mas sem que apresente perigo. sigo atrás deles, sala após sala, a olhar para as paredes em busca de uma porta promissora. enfim lá vamos dar a umas escadas. enormes, de madeira e os dois sempre tagarelando no que me parece ser uma língua de trapos, provavelmnte fruto da minha desatenção. só penso nas escadas, que começo a descer. são tão largas, altas e com um poço no meio delas tão grande que não há modo de as abreviar. cada patamar é diferente mas não me detenho a observá-lo. continuo, o truque é olhar para baixo. finalmente chego ao fim mas em vez de ir dar a um lobby de prédio, desemboco numa loja por alugar, daquelas que têm a montra de grandes vidraças por limpar. no chão há vários sacos de plástico brancos, dos que não fazem barulho, cheios de material de escritório insólito como aquelas coisas desenroladoras "tire a sua vez" que há nas zonas de espera de repartições, supermercados e afins. desvio os sacos para tentar passar, são tantos. saio da loja, parece que a porta cedeu, e venho para a rua. rua estranha, parecem ruas do avesso. finalmente, segundo um raciocínio original, lá me oriento e chego a casa. não arrisco, escolho o elevador, desnivelado ou não, e quarto andar comigo. pára no sítio certo. entro em casa, cansadíssima, deito-me e adormeço.
eu que pouco tenho escrito vos proporciono este naco de letras só para ver se querem ser o john malkovich. qual david lynch qual quê. esse até me faz impressão às vezes. não quero cá os sonhos dos outros, que desconforto. até porque me chamo rita e tenho aquele poster aqui atrás de mim e a coisa faz-me arrepios. eu sou mais uma história simples. regalem-se e analisem se quiserem. isto só serve para sublinhar o meu espanto face ao porquê das pessoas se drogarem. está tudo cá dentro.
ah, os sonhos, os sonhos... consciência tranquila é coisa que não existe.
mão d'obra
estudo de mãos.
um mimo no Louvre. quadros do tamanho de casas mas o que m'agarra são os pequenos tesouros.
por LARGILLIÈRE, Nicolas de
francês nascido em 1656, Paris, morrido em 1746 no mesmo sítio.
genial
Gilles Lipovetsky, filósofo francês, desde seu primeiro livro, " L´Ere du vide " (1983) procura discutir a interpretação da modernidade e da sua superação.
Este, publicado pelas Edições70 e "A Era do Vazio" publicado pela Relógio d'Agua, aqui e aqui. Gilles Lipovetsky vai cá estar, na Culturgest. imperdível. mais info aqui.
eu e o papa
tem carapuço!
quando o vi pela primeira vez, aos 4 anos, o meu espanto recaiu todo sobre o acessório.
apesar
com a força da gravidade a pesar, o impulso é para subir. é esta a luta. e é por isso que os elevadores nos deixam constrangidos.
all de entrada
hoje pela primeira vez, ou foi ontem?, pensei em nunca mais voltar aqui. mas qual quê, lá vim ver como parava a moda. assim tudo meio morno, sem grande transtorno, só muda o molho que o cujo é o mesmo. bom, claro, bom, não digo que não. mas comer o miniprático, em directo e ao balcão nem sempre apetece. e a verdade é que escrevo agora e não em apetece. o que era era prolongar o silêncio quente moleza boa de cama. isto de unir a estupidez aos tempos livres e horas mortas tem o seu peso. até porque principalmentre sou mais interessante ao vivo e isto é a fala barata, conversa apeada e meios caminhos andados para nada. apeteceu-me calar-me um bocadinho, e não ver mais nada. não porque me falte o verbo, que essa fonte não quer secar, mas falta-me o saco, um novo, que este já está meio roto e remendado. e ficar assim tão sossegada, longe da faina e da vida airada que me apetece um poiso à margem, um posto de observagem, à sombra, a tecer outras teias, a desfolhar-me no que sopram os dias que agora são mais longos longe da falha e da vida virada, é o que apetece, o que agradece e retribui.
sou tão feliz que já não presto para mais nada.