já uma mulherzinha
[sei que estou a crescer quando resisto à compra de uma mala em forma de guitarra. e a outra em forma de rádio. bem, talvez não porque resista, mas porque já tenho uma que é uma televisão e de ter pouco dinheiro para sustentar este vício dos contentores de mão. se calhar. mas resisti e isso contará. ainda que me fique a espinha atravessadinha a tiracolo.
o facto de não me rir quando o outro senhor cantou na aula é constitutivo e não entra na contabilidade assim como a restante parte de mim que é assim. já o facto de me ter rido com o outro a dizer catolichizmo e o outro a falar em água fresca quando se a queria doce isso já é outra conversa. bem, feitas as contas estou a regredir.
tanta coisa cá dentro e depois é isto que me sai. valha-me alguém que caso contrário coiso. falta-me o tempo. e o saco. e tenho muito mais a fazer. e tudo isto soa mal. mas sabe bem. pim!]
mao mao maria
família feliz é coisa de menu do chinês
por causa das tosses
a beleza será convulsa ou não será.
breton, nadja
e s t e b l o g e s t á u m b o c a d i n h o s e m p a l a v r a s
meteorologia
ainda não sei bem por onde pegar. mas aí nada de novo. aliás, aqui há poucas novidades colossais que as coisas boas imiscuem-se devagar. nem no olho molhado, que não sendo habitual, também não é raro. mas isto comoveu-me. tudo o que chamou. mais tarde ou mais cedo tudo se entrelaça. vi-te uma vez e sem te sentir à vontade, fui andando e não disse nada. anos depois nesta segunda vez estava com pressa e sem certezas de que fosses de facto tu. com vários dias de atraso cai-me um raio no colo e claro, como foi possível passar todos esses dias sem me dar conta perguntei-me eu. não te negaria mais nenhuma vez e quando fui saber já tinhas picado o ponto e era o último dia. mas não fazia mal que ficava para a próxima que não acredito em últimos dias e pode guardar-se para depois o reencontro e o embaraço. e depois isto. porque é esquisita esta visita à rua onde nos esfolámos, onde o cão ladrava dia e noite, os banhos eram de mangueira, o tempo para gastar muito e o vizinho lavava o carro todos os dias pontualmente. havia meias para apanhar no telheiro dos do r/c, molas no meio das ervas e vários outros vizinhos. os da minha rua que também foi um pouco a tua, o xavier, a edine a aline e a dentine, esta última inventada pelo o meu tio, a fernandaaaaaaa e o joão não muito longe hoje do que eram mas já outros e a garagem deles, os da outra rua e as garagens da nossa. que aqui os nomes eram gritados de lés a lés em forma de eco e se faziam guerras aos vizinhos, desenhos a giz no alcatrão e lanches tu cá tu lá, entre segredos e gravações de cassetes. ode houve primos no verão e festas de anos. a rua onde vivi, terceiro andar esquerdo com vista para a serra e para o mar e um venham jantar garantido. na rua de e para onde olhei tanto, à janela de lápis na mão a perceber que não tinha jeito para o desenho, na outra janela de periquito na corda da roupa, na outra à espera de quem chegasse, e de novo na primeira a fumar o cigarro clandestino. as pernas foram deixando de caber entre as grades e nunca mais tive dessas pilhas gordas que alimentavam o rádio mas o monopólio está guardado. que o tempo estuga o passo, empurra os peões para a frente e passa a vida muito vite. o prédio foi perdendo a cor e ainda não o repintaram. já lá não estamos mas passo ao largo por vezes. agora ninguém lá anda de bicicleta mas ouvem-se os amoladores. ninguém atira coisas pedidas e chaves esquecidas da janela, nem se magoam zangam e amigam nem procuram pistas nem inventam conspirações. embora esteja tudo igual. não pude evitar os olhos de água e sal porque o tempo é ladrão e apesar da casa cheia há buracos cá dentro onde faz corrente de ar. foram tardes enormes e dias de correria apanhada escondidas, saltos de corda e patins em linha a trepidarem no alcatrão. fomos tantos mas até sozinha tinha piada. foste a última novidade da rua que recordo e lembro-me de ter ficado contente com isso de a minha irmã ter encontrado uma amiga esperta e divertida. lembrei-me de ti quando o george michael cá veio. e a minha irmã ainda hoje gosta do axl rose por tua causa. custa-me o abanão que o recuo traz porque uma vez a andância pra diante os virares de cabeça vão escasseando e depois é uma surpresa. não se fazem pesamentos, aprecia-se. apreciar que apesar da piroseira do termo é uma fruição contemplativa. fico contente por estares bem e nem esperava outra coisa. havemos de falar depois para substituir esta imagem que tenho de ti pequena. remexer nos arquivos vivos é sempre bom e eu sempre gosto. ultimamente tem-me chegado muita coisa vinda dos passados, talvez porque as coisas nunca tenham andado tão rápidas. a vida alonga-se mas alinha-se. o tempo, esse grande terrorista. não sobra muito para teorizar. asnática como il faut e tão feliz como nunca. não páro de fazer anos. tenho um blog há dois. da nova casa também vejo o mar e há um cão que também ladra a toda a hora.
a minha irmã vai ter o filho na segunda-feira.
a parte que me toca
aqui ao pé de rabo na boca feito à mão escolhido a dedo debaixo do nariz todo ouvidos pelos cabelos na ponta da língua e de joelhos com quantos dentes tenho pelos cotovelos a morder os calcanhares, aos ombros e às costas porque de pernas para o ar de barriga cheia em plenos pulmões, a pulso com os olhos bem abertos e das tripas coração.
sonhos do livro
Se um homem atravessasse o Paraíso no seu sonho e lhe dessem uma flor como prova de que tinha estado ali, e se ao acordar encontrasse essa flor na sua mão, então que acontecia?
S. T. Coleridge 1772-1834
na impossibilidade de amar a humanidade inteira, direi um só segredo a um só ouvido
Luíza Neto Jorge
ex equo
ia pôr-me ontem a discursar, acaloradamente, claro, como é apanágio da demoisele que nem doutro modo o sabe fazer, acerca da raiva que me dá pra muitos o cool que é ser-se deprimido. blazer coçado e mais acessórios que se lhe queira juntar para apurar o cozido. se for género menina ah então atire-se-lhe com olhos grandes. e tudo tem de fumar muito, fazer que bebe mais, muito autocontemplativo e o bardo do tédio que a vida é. a indifrença, os rasgos de marginalidade que se queria génio, muita ferida por lamber, supiros oscilantes entre a saudade e o nojo. tudo isto m'enerva quando o prato vem cheio demais. e voltimeia num assomo nietzschiano apetece-me fazer uma lavagem cerebral a todas as cabeças que merecessem ser poupadas à minha ira. só que não dá. caso contrário o mundo era um lugar ainda mais bizarro do que aquele que de facto é e eu teria poderes investidos em mim que não interessam a ninguém. nha nha nha que porcaria nha nha nha a vida é uma que poça e eu pisei-a nha nha nha ninguém me quer nha nha nha estou bloqueado nha nha nha. dêm-me uma pausa que tanta alma definhada é dificil de digerir duma só vez. as palavras aparecem no écran e parece-me longe daquilo que queria dizer. either way, assim é e nada posso fazer. enfim, o que dizer. compreendo mas não me apetece passar a mão no pêlo e assinar essa petição que tantas vezes minerva. por um lado é bom que o ser humano possa fazer esta coisa por vezes abeçoada que o disfarçar. ser telepata podia ser interessante, mas quel abismo. já disse que não quero superpoderes para nada, habituei-me às minhas grandes pequenas limitações. mas nem só de drama vive o homem. isto era o que eu ia dizer maizoumenos, claro, que faço sempre outra coisa, muitas vezes menor e esta seve só para amostra. mas vá-se lá saber, isto do mundo a funcionar é bonito, e eu, umas horas depois, com o passar do tempo, eis que m'assola a mesma náusea. bem sei que é provavelmente de origem fisiológica e sempre passageira, mas instalou-se. e não digo mais nada caso contrário arrependo-me. nha ha nha.
post de abastecimento
como dizia o padre, quem não sabe cantar não canta.
e é dos encontros que a vida é feita e na fogueira das cumplicidades que se abrasa o ser.
e ai como é bom dar e receber tanto tudo e de todas as maneiras.
ah, e isso também achei ao princípio, e fui temendo sempre até que I was proved wrong de todas as vezes. e ainda bem. mesmo ainda bem.
o alarde que m'habita de vez em choque não é constante, mas sabe a ginja e calha melhor.
não me desculparei de nada, nem da borbulha eventual. e também não espero ser perdoada. do e a mais ou menos, da exclamativa agitação
assim, de uma cajadada, matam-se os dizeres em que se me afoga o coração. que os tempos nada mortos m'enlevam em nuvens claras, sinos doidos e mão na mão. a felicidade não se sacrifica à estética, é-a toda ela toda eu quando em vez de fazer frio, soleu e o mundo promete.
e tu, smeagol, volta para o pesadelo de onde saíste.
não parece fazer sentido claro pois não porque pois sim juntei tudo num. mas isto cada um é rei do seu torrão e não presto contas a segundos. assim o tempo perde-se melhor. seguro-o pela crina e lá vamos nós, abismo acima.