kitschnet - mini-pratos ao balcão: Custo de vida


25.10.12

Custo de vida
« – Para o funeral do meu pai, foi tudo em grande. Caixão de pau-santo, flores e mais flores, palmas, coroas, só visto. Tudo em estilo. 
– Ah, eu não acredito em funerais grandes. Eles não vêem, não sentem, isso só é importante para si. 
– Ah, mas para ele tinha de ser. Tudo do melhor. 
– Eu cá acho que a minha querida devia ser cremada. 
– Eu quero lá isso, que horror! Eu vou para o jazigo, para o pé da minha família. Não vou lá muitas vezes, é certo, mas eles estão lá todos. Ou se calhar compro outro. 
– Pois, agora estão baratos. 
– Mas tem de ser central. 
– Como assim? 
– No meio do cemitério, não é um jazigo lá para as pontas. 
– Por falar em cremação, há uns tempos, num avião, um bombista levou explosivos numa urna, para não serem detectados, e aquilo explodiu. 
– Ah… não sabia. 
– E esta passou-se comigo: na capela do aeroporto, que eles lá têm sempre uma capela, tinha acabado de sair quando ouvi uma explosão atrás de mim, com vidros partidos e tudo. Foi os gases de uma urna. Um cheirete que não se podia. Vidros e tudo. 
 – É, às vezes acontecem coisas esquisitas. Como aviões a desaparecerem nas ilhas das termudas.» 

Esta coisa esquisita passou-se há meia hora, no café, a dois metros da minha canja. De caixão à cova.

posted by pimpinelle