Custo de vida « – Para o funeral do meu pai, foi tudo em grande. Caixão de pau-santo, flores e mais flores, palmas, coroas, só visto. Tudo em estilo. – Ah, eu não acredito em funerais grandes. Eles não vêem, não sentem, isso só é importante para si. – Ah, mas para ele tinha de ser. Tudo do melhor. – Eu cá acho que a minha querida devia ser cremada. – Eu quero lá isso, que horror! Eu vou para o jazigo, para o pé da minha família. Não vou lá muitas vezes, é certo, mas eles estão lá todos. Ou se calhar compro outro. – Pois, agora estão baratos. – Mas tem de ser central. – Como assim? – No meio do cemitério, não é um jazigo lá para as pontas. – Por falar em cremação, há uns tempos, num avião, um bombista levou explosivos numa urna, para não serem detectados, e aquilo explodiu. – Ah… não sabia. – E esta passou-se comigo: na capela do aeroporto, que eles lá têm sempre uma capela, tinha acabado de sair quando ouvi uma explosão atrás de mim, com vidros partidos e tudo. Foi os gases de uma urna. Um cheirete que não se podia. Vidros e tudo. – É, às vezes acontecem coisas esquisitas. Como aviões a desaparecerem nas ilhas das termudas.» Esta coisa esquisita passou-se há meia hora, no café, a dois metros da minha canja. De caixão à cova. posted by pimpinelle