kitschnet - mini-pratos ao balcão: Metropolitâneo


12.11.13

Metropolitâneo
Na Alameda subterrânea, moça anafada anuncia com enfado os pastéis de nata industriais que jura serem acabados de chegar (terão vindo de metro?) notem que diz chegar e não fazer. Está afastada do carrinho onde os vende, um pouco no meio do caminho dos cidadãos  publico-transportados, mãos atrás das costas, de boca aberta como ardina de antigamente. Talvez seja estudante; é nova, quiçá licenciada moradora nalgum subúrbio. 
Sorrio-lhe, solidária com a dureza da posição em que se encontra, à mercê das correntes de ar, provavelmente com metas de vendas para atingir. Olha para mim com estranheza mas continua a apregoar. Pelas sobrancelhas, parece zangada. Percebo que julgou que o meu sorriso era de troça. Continuo a andar, estou com pressa. Ainda penso em voltar para trás, para esclarecer o mal-entendido. 
Mas esclarecer o quê? Seriam necessárias muitas palavras para explicar uma coisa simples, julgar-me-ia doida, talvez ela seja doida, talvez eu me sentisse forçada a comprar um pastel de nata industrial, talvez ela me desse com um na cara.

posted by pimpinelle