kitschnet - mini-pratos ao balcão: Generalogias


18.1.14

Generalogias

Leio na literatura coisas do género «as pessoas são como [...]», a que se segue a metáfora navios, uma flor, um urso furioso e depois um exemplo. E o indivíduo expõe ali, naquelas linhas aborrecidíssimas, uma teoria a que dedicou neurónios, de que se orgulha, mas que não cumpre qualquer propósito além de o escriba ter encontrado uma casquinha de noz onde pôr o mundo (e de isso, se calhar, lhe garantir uma ou duas boas noites de sono). 
Durante muito tempo achei um defeito, e por vezes ainda caio na armadilha e acho, a minha incapacidade de reduzir a humanidade, o Ocidente, os europeus, os portugueses, as mulheres, as mulheres jovens, as mulheres jovens que habitam em Lisboa ou as mulheres jovens que habitam no centro de Lisboa a uma coisa, mesmo que essa coisa seja uma metáfora complexa e mirabolante. O único mapa bom para o mundo é um em tamanho real. 
Zeus me livre de dizer o que os outros são. No dia em que me virem fazê-lo, sedem-me com um dardo tranquilizante até me passar o delírio. Os outros não são coisa alguma. São estranhos. Provavelmente porque são os outros. E toda a tentativa de os reunir e de os atar com uma corda ainda que eles próprios se reúnam, se atem com uma corda e cantem pais-nossos em coro é estúpida. E aqui generalizo sem problemas. Está dito. Que alívio.

posted by pimpinelle