kitschnet - mini-pratos ao balcão: Bombeiro


16.7.14

Bombeiro
Às nove horas da manhã do dia 25 de Maio, Alfredo Sousa, bombeiro de profissão, entrou, fardado, na estação de correios da sua vila fazendo-se acompanhar de um cesto de vime pelo braço. Os funcionários estranharam a sua presença ali àquela hora, que não era a habitual, e a ausência de quaisquer cartas ou encomendas. Interiormente, uns acreditaram que estivessem no cesto e outros atribuíram o cesto a uma ida ao mercado, prosseguindo todos com os seus afazeres. Poucos segundos após a entrada do bombeiro Sousa, a cesta explodiu sem aviso, com estrondo e muito estrago, despedaçando-se ao mesmo tempo que o homem que a levava. Este acontecimento apanhou todos desprevenidos. Um utente que se encontrava no local ficou com queimaduras graves e os três funcionários da estação só saíram ilesos por dois deles estarem sentados atrás do balcão de pedra e um terceiro ter ido aos lavabos. Quando o fumo e a nuvem de fogo se dissiparam, foi possível ver pedaços do bombeiro suicida espalhados pelas instalações, que agora se assemelhavam a um talho em desalinho. Os restantes elementos da corporação acorreram ao local, socorreram o queimado e limparam o colega o melhor que puderam, entre lágrimas e espanto. A perícia concluiu que Alfredo Sousa levava consigo três granadas no cesto, já armadilhadas na altura da sua entrada na estação, mas não conseguiu apurar se trazia com ele mais alguma coisa, como um bilhete ou uma merenda, que pode ter sido pulverizada no processo. Os motivos deste seu gesto permanecem por deslindar, embora familiares e vizinhos garantam que ele era uma pessoa pacata, que gostava da sua canja e de lavar o carro aos fins-de-semana.

posted by pimpinelle